domingo, 30 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

A PERÍCIA

Depois de os policiais terem levado Larissa para o hospital, Seu Nilo voltou ao apartamento das meninas e encontrou apenas um policial desligando o telefone.
- Chamei o investigador. Agora, permaneça aqui para o perito falar com o senhor.
- Eu espero. Posso ligar para minha esposa? Quero informar que vou demorar...
- Claro.
O policial ligou para João Antônio, perito em casos de homicídios e assaltos. Era o noivo de Adriana. Estava dormindo no momento do acontecimento, acordou apenas quando o telefone que estava no chão tocou, era um policial: - Não tinha um momento melhor para ligar?...O quê?...- Ele sentou. - É na casa da minha noiva! Eu indo... Não toque em nada... Sim... E eu chamo a minha equipe!
Desligou o telefone com a calça jeans na metade das pernas:- Alô? Raissa querida desculpe incomodar a sua noite de amor... Eu sei! O negócio é sério. Vá correndo... É na casa de Adriana... Valeu!
Aos poucos, os curiosos foram saindo, João Antônio chegou ao mesmo momento que sua assistente.
- O que aconteceu? – Perguntou Raíssa.
- Ainda não sei. Parece que um assalto com assassinato...
- Típico de um iniciante...
- É o que vamos ver.
Um policial se aproximou dos dois: - O senhor é o responsável pela investigação?
- João Antônio.
- Vamos à cena do crime.
João e Raissa conversaram com Seu Nilo e o deixaram ir embora. O policial também foi interrogado. Apanharam provas no local que aconteceu o crime, havia uma poça de sangue entre o corredor e o centro da sala, uma bola de vidro espatifada no chão, o centro estava um pouco afastado. Encontraram pegadas de sapato que contornavam a sala e davam direto na janela que estava aberta. João resolveu ir ao quarto de Larissa, e logo encontrou o notbook ligado, ao mexer o mouse, viu que Larissa estava conversando com alguém.
- Raissa, pegue o notbook! Vou visitar um amigo!
César ainda estava sentado em sua poltrona verde, vendo as fotos que tirou dos assaltantes, a campainha tocou, ele ficou um pouco assustado – Quem seria àquela hora da noite? – Foi até a porta e perguntou quem era.
- Detetive João Antônio!
César abriu a porta ainda assustado.
- Quero fazer algumas perguntas... Você viu o que aconteceu no prédio aí da frente?
Sim... Eu quero que você veja isso! – César mostrou a câmera.
- São provas importantíssimas!
- E levam direto aos criminosos! – disse César.
- Preciso levar a sua câmera!
- Pode levar.
- Obrigado pelas provas!
João saiu olhando as fotos, ele já estava na porta do edifício quando o seu celular tocou, era Raissa: - Você não sabe o que encontrei! – disse o detetive.
- Então venha depressa, você também não vai acreditar!
Em pouco tempo, João chegou ao apartamento da noiva. Raissa estava na janela.
- O nosso ladrão estava sem luvas!
- Encontramos nosso ladrão!
- Como assim?
- Um rapaz me deu provas concretas do autor desse crime. – ele mostrou a câmera.
- Só falta saber o nome dele!
- Vamos embora, não precisamos de mais nada, o que temos é suficiente. Pegou as digitais? Vamos comparar com as dos outros crimes.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

NOITE SEM LUAR

César estava acompanhando de fora, como um espectador, ou melhor, uma testemunha ocular. É um conhecido de Larissa e Adriana, mora numa casa de frente para o Edifício Dom Bosco. Eles passavam um pelo outro e se cumprimentavam com, “bons dias”, “oi”, “tudo bom?” Ela nem sabia o nome dele!
Mas César tinha um segredo: uma paixão secreta por Larissa, eles conversavam pela internet e ela não sabia.
Naquela noite, ele resolveu contar à Larissa de sua paixão, quando fosse falar com ela pela internet. Seria difícil, pois ele nunca foi tão corajoso como agora. A noite estava devagar e pacata, o vento não balançava a copa das árvores, estava quente naquele dia de outono que mais parecia verão. A lua não apareceu, era lua nova. César começou a pensar no que diria a Larissa. O que ela iria pensar? Ele estava em seu quarto, deitado na cama, a janela aberta de frente para o apartamento de Larissa, havia uma câmera fotográfica na escrivaninha perto do computador, tocava um violão enquanto lembrava-se do dia que a conheceu.
Era uma tarde nublada Larissa tirava muitas malas de um carro com Adriana, eram pesadas, ele estava passando na calçada e ela pediu-lhe ajuda:
- Ei! Você pode nos ajudar com essas malas?
Ele não respondeu, mas ajudou. Levou as malas até a sala e acomodou-as no canto da porta.
- Obrigada. Você mora aqui perto?- e antes que ele pudesse responder Adriana o fez.
- Ele é nosso vizinho. Mora aí na casa da frente.
- Prazer. Larissa. E você?
-... César.
- Pois é. Eu sou a sua nova vizinha.
- Tchau.
Voltou de seus pensamentos rindo do que aconteceu naquela época. Recordou de outro acontecimento, quando voltando da faculdade com um monte de livros, ela mais uma vez pediu a sua ajuda.
- César! É o seu nome não é?
- Precisa de ajuda?
- Parece que eu só preciso de você quando estou com alguma coisa pesada. – ela passou alguns livros para ele.
- Eu não me importo.
- Você é um homem bom. Sabia?
Ele a acompanhou até a porta do apartamento e despediu-se.
Um dia, mexendo nas páginas de relacionamento da internet encontrou Larissa, teve a idéia de conversar com ela sem se identificar. E deu certo. Todas as noites, eles conversavam, um aconselhava o outro, foi o início de uma grande amizade.
No horário marcado, mandou uma mensagem para Larissa, ela respondeu:
- O q tá fazendo?
- Tocando 1 música p vc.
-Depois qro escutar...
- O q ñ faço por vc?... eu tenho algo a dizer...
- O q?
-Eu conheço vc.
-Eu sei.
-Eu moro perto da sua ksa.
- Pq vc nunk me disse?
- Eu tinha medo. Mas agora eu me encorajei a dizer qm eu sou.
- E qm é vc?1 tarado?Louco?
- Sempre fui apaixonado por vc. Meu nome é César o vizinho q mora na ksa da frente.
Mas Larissa não respondeu. Antes que ele pudesse terminar de escrever ouviu um barulho parecido com um tiro, e depois ouviu gritos, olhou pela janela e viu um homem descendo rapidamente o prédio em que as meninas moravam. Pegou a câmera fotográfica na escrivaninha perto da janela e conseguiu tirar fotos dos rapazes que estavam em baixo e do que acabava de descer. César era um ótimo fotógrafo, fazia por hobby, mas era editor numa revista.
Nos minutos seguintes, César viu Seu Nilo sair e pedir ajuda a uns policias em serviço. Um aglomerado de gente se fez na porta do Edifício Dom Bosco, ele preferiu ficar em casa vendo da janela e tirando fotos. A vítima saiu nos braços dos policiais, o sangue escorria dos dedos, o coração do rapaz saltou, era Larissa quase morta. As lágrimas vieram, ficou imóvel por alguns segundos, depois  sentou-se numa poltrona verde, calado, mergulhado em seus pensamentos, sentindo que foi tarde demais a sua coragem para se declarar.



''Hoje a noite não tem luar
E eu estou sem ela...''
(Renato Russo)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

ERRO PERFEITO

Paulo Santos Corrêa Filho pertencia a uma família rica e seus pais nunca mediram esforços para dar ao filho o que ele queria. Aos quinze anos começou a fazer pequenos furtos com os amigos apenas por brincadeira. Na casa dos amigos da alta sociedade, a culpa era sempre das empregadas. Nunca foram pegos pela polícia, por que usavam terceiros em seus roubos. Parecia ser um bom rapaz diante a sociedade nobre, que viviam sob os privilégios da vida. Esse é o assassino de Larissa.
Fazia algum tempo que Paulo e os amigos rondavam os prédios do bairro que Larissa e Adriana moravam, passaram a semana observando o edifício Dom Bosco, procurando conhecer os horários dos moradores, meios de entrada, observou também o horário de dormir de cada condômino com seus comparsas. Perceberam que no segundo andar, um dos apartamentos sempre deixava a janela aberta, combinaram de assaltá-lo na madrugada do dia cinco de abril às duas horas.
Naquela noite, Paulo disse aos dois amigos que o esperasse na rua ao lado do prédio. Ainda estava em casa se arrumando para sair, passou na sala e beijou a mãe.
- Aonde vai meu amor?
- Numa festa com os amigos.
- Cuidado com as amizades!
- Pode deixar mãe. Dá um beijo no pai por mim.
Para disfarçar, Paulo foi a uma boate antes de fazer o roubo. Acendeu um cigarro, pegou uma cerveja e entrou na pista de dança. Viu uma mulher dançando com um rapaz, resolveu puxá-la para dançar, agarrou sua mão forte, sem ela querer ficar perto dele.
- Vamo dançar, gatinha!
- Me solta!
- Solta ela, cara!
-A biba vai fazer o quê?
O rapaz deu um soco no nariz de Paulo, espirrou sangue, ele quis revidar, mas os amigos do outro rapaz o seguraram e expulsaram-no da boate.
- Ainda pego aquele gay! – e saiu em direção ao Edifício Dom Bosco, o sangue ainda escorria de seu nariz, ele passava na frente do edifício quando um homem o abordou oferecendo ajuda:
- Precisa de ajuda rapaz? O que aconteceu?
- Me larga! Não preciso da ajuda de um empregado!
- Calma, a escravidão já passou. Quero apenas ajudar.
- Solta, negro safado!
- Preconceito é crime!- falou se afastando.
- Não enche! – ele sussurrou e não demorou chegar onde os amigos o esperavam.
- O que aconteceu, cara?
-Nada. Fiquem aqui em baixo. Eu subo dessa vez e pego o que tiver de valor...
- Boa sorte. – Eles riram e fizeram um gesto de cumprimento.
- Valeu.
Paulo escalou o prédio, chegou ao segundo andar, afastou as cortinas delicadamente e entrou na casa bagunçando todas as coisas sem fazer barulho.
- Droga! Esqueci as luvas. Agora é tarde... – continuou a caminhar esquivo. Sem querer, bateu a perna numa mesinha e derrubou uma bola de vidro que se espatifou no chão, ele pulou de dor. Percebendo os passos de alguém pela casa sacou uma arma da cintura, calibre trinta e oito, e apontou para onde vinham os passos, a pessoa tentou acender a luz, ele atirou antes que ela pudesse o fazer, e correu para a janela sem nada levar.
Paulo estava assustado ao descer do prédio, seus amigos perceberam a sua palidez.
- Aquilo foi um tiro?
- Acho que matei alguém!
- Você ficou louco? ROUBAMOS SÓ DE BRINCADEIRA, ZOAÇÃO!
- Fala mais baixo, idiota! Quer que nos escutem? Eu não sei o que aconteceu.
- Vamos sair daqui, eu com medo...
- Tenho uma idéia melhor, fiquem aqui e esperem alguma notícia. Me liguem, se virem qualquer coisa.
- Vai logo, cara!
- Valeu. - Paulo entrou no carro vermelho que os amigos estavam e foi embora nervoso.
Os amigos de Paulo viram todos os movimentos de perto, camuflados entre os curiosos, viram até o momento que levaram uma moça ao camburão nos braços de dois policiais.
- Vamos embora, antes que venham nos perguntar alguma coisa.

sábado, 22 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

SAUDADE APERTA O CORAÇÃO

Quando Pedro e Larissa saíram de casa para estudar, seus pais ficaram sozinhos, sem nada para fazer, já estavam aposentados e “sentiam-se velhos demais para estar por aí, como ‘’adolescentes”.
Estavam em casa, como sempre, assistindo televisão.
- O que vamos fazer hoje?- perguntou o velho.
- Hoje é o último capítulo da novela, quero saber quem é o assassino do pai da Claudia...
- Todo dia, quando a noite chega, sentamos nesse sofá e assistimos novela. Não temos outra coisa para fazer?
- Somos velhos. E quando a velhice chega, o cansaço chega junto e nada dá para se fazer...
- Estamos morrendo sentados aqui. - ele sentou perto dela triste. Ela desligou a televisão.
- O que você propõe que façamos esta noite?
- Tire esta camisola, vamos ao teatro!
A velha fez o que o marido pediu. Vestiu um vestido florido, acrescentou um batom vermelho nos lábios e brincos perolados. Saíram de mãos dadas, como não faziam há tempos. Pegaram um táxi até o teatro que não era muito longe de onde moravam. Estava quase lotado, mas conseguiram um bom lugar na platéia. Era uma comédia, eles riram muito. Identificaram no palco alguns amigos que também estavam aposentados, como eles, já que a peça era formada apenas por idosos. Foram convidados a subirem no palco, no início, a velha estava envergonhada, mas o marido tanto insistiu que ela aceitou subir. O mais engraçado é que tudo era improvisado, os dois riam o tempo todo, a velha deixou de se sentir velha e passou a se sentir Joana enrolada com lenços e fantasiada de borboleta e o velho tornou-se Agenor recitando poesias engraçadas para o povo rir. No fim, foram muito aplaudidos. No camarim conversaram com seus amigos:
- Queremos agradecer por vocês terem vindo nos prestigiar.
- Nós que agradecemos. Senão, estaríamos em casa assistindo novela!
- E é por isso que queremos fazer um convite...
- Se for para ver vocês novamente, já somos seus fãs!
- Queremos que vocês participem do grupo de teatro. E não aceitamos “não” como resposta!
- Pode nos esperar para os ensaios, não vamos faltar!
- Vocês vão amar!
- Adoraríamos ficar conversando, mas temos que ir. Vamos querida?
- Nem vi o tempo passar. Me sinto jovem outra vez.
- E quem disse que não somos jovens?
O telefone tocava quando chegavam a casa, Joana atendeu. Era Pedro, seu filho: - Mãe?
- Oi meu amor... Você não sabe...
- Aconteceu o pior...
- Foi com sua irmã? Não me assusta, filho! Bateram em você?
- O que aconteceu?- perguntou o pai.
- Não é comigo. Larissa levou um tiro, já a levaram para o hospital...
- Como aconteceu? – Joana sentou-se no sofá e começou a chorar.
- Assalto... - o pai sentou ao lado da mulher e a abraçou sem saber o que tinha acontecido.
- Já estamos indo!
- Tchau!- Cuide da sua irmã até eu chegar aí... – desligou o telefone imediatamente.
- O que aconteceu?
- Larissa levou um tiro!- ela ainda estava chorando.
- O quê? Onde?
- Não sei, parece que foi um assalto! – eles se abraçaram.
- Meu Deus. Que mundo é esse?
- Vamos logo para o hospital...

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

ONDE O SONHO MORA

Seu Nilo trabalha no edifício Dom Bosco há vinte anos, e mora com sua família lá também. Faz três anos que ele voltou a estudar, terminou o ensino médio e passou no vestibular no curso de direito, esse é um objetivo que ele lutou com sacrifício e perseverança.
Na noite do assassinato de Larissa, como de costume, Seu Nilo estava estudando sentado em uma cadeira na calçada do prédio com um livro apoiado nas pernas. Ele viu um rapaz andando rápido com o nariz sangrando. Resolveu ajudar.
- Precisa de ajuda rapaz? O que aconteceu?
- Me larga! Não preciso da ajuda de um empregado!
- Calma, a escravidão já passou. Quero apenas ajudar.
- Solta, negro safado!
- Preconceito é crime! – falou irritado e se afastou. Voltou a estudar e não olhou mais para os lados, apenas para o livro, e não viu para onde o rapaz foi. Algum tempo depois, trancou a recepção e foi para sua casa que fica no andar de baixo. Encontrou sua esposa assistindo televisão com a filha que já dormia apoiada nas pernas da mãe.
- Boa noite querida.
- Como foi o trabalho?
- Pouco movimento...
- Me ajuda a botar a Manú na cama. – Seu Nilo pegou a filha no colo e levou-a para o quarto, enrolou-a e beijou seu rosto. Voltou para sala e encontrou sua esposa ouvindo música: - Lembra?
- Nosso casamento... – ele segurou a mulher pela cintura e começaram a dançar.
- Eu estou muito feliz.
- Eu também estou. Eu amo você. - eles se beijaram.
De repente, escutam um barulho, um tiro, Manú entrou na sala assustada.
- Eu acho que é no segundo andar.
- Eu vou lá, fiquem aqui, não saiam.
- Cuidado pai.
Seu Nilo saiu correndo, lembrou de ligar para a polícia, mas ao sair encontrou uma viatura passando na rua.
- Ouvi um tiro no segundo andar! – Os policiais o acompanharam às pressas, bateram a porta das meninas, ouvia-se pedidos de socorro, a porta estava trancada, um dos policiais arrombou-a com um chute, Seu Nilo teve um susto com aquela cena:          - Meu Deus!
- Ajuda!- Adriana gritou.
- Eu vou chamar a ambulância. – Seu Nilo saiu para pegar um telefone. Mas antes, viu um dos policiais segurar Larissa nos braços e correr com Adriana para o camburão. Ligou primeiro para Pedro, o irmão de Larissa: - Pedro... Larissa... Sua irmã levou um tiro, já estão levando para o hospital, a situação é grave. Parece que foi um assalto... OK!
Seu Nilo voltou ao apartamento das meninas, os vizinhos estavam assustados observando a cena do crime e outros acompanharam a movimentação até a rua. Seu Nilo encontrou um dos três policiais no local, tinha acabado de desligar o celular.
- Chamei reforços, permaneça aqui para os peritos falarem com o senhor.
- Eu espero. Eu posso ligar para a minha família? Quero informar que vou demorar...
- Claro.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

VIVER A VIDA

De quinta a domingo, após o expediente, Pedro ia a uma boate LGBT perto de sua casa, onde morava com Larissa e Adriana. Lá ele encontrava seus amigos, dançava, bebia, se divertia.
Quando falou a seus pais sobre sua orientação sexual, foi acolhido com todo amor que uma família poderia dar. Mas Pedro ainda era vítima de preconceitos e agressões. Ele era consciente das atitudes humanas, fingia não ouvir o que falavam de sua vida.
Naquela noite, Pedro foi à boate com uma amiga do trabalho que queria conhecer o espaço.
- Você vai amar a boate!
- Hoje eu quero abalar as estruturas!
- Então te prepara que o lugar é bom!
Pedro e sua amiga curtiram a noite, conheceram gente nova, estavam felizes.
Mas nem tudo são estrelas, a noite estava boa demais. Um rapaz que estava fumando agarrou a amiga de Pedro, ela não queria dançar com ele porque a fumaça do cigarro impregnava seus pulmões.
- Solta ela, cara!
- A biba vai fazer o quê?
Pedro deu um soco no nariz do rapaz, espirrou sangue, ele quis revidar, mas os amigos de Pedro o seguraram e o expulsaram da boate.
- Você está bem, amiga? – Pedro abraçou a amiga.
- Quem é ele?
- É um idiota. Rico, tarado e ladrão!
- Será que ele vai voltar?
- Os meninos não deixam. – Ele acenou para uns homens musculosos que estavam sentados numa mesa. – Vamos dançar. – O celular dele tocou. – Ui!...Tá vibrando... Alô? Seu Nilo?
- O que aconteceu, Pedro? – a amiga perguntou.
- Eu estou indo para o hospital agora... Tá bom, eu ligo para os meus pais.
- Fala Pedro! – ele estava pálido e nervoso, nem conseguia apertar os botões do celular.
- Minha irmã levou um tiro!
- Meu Deus!
- Mãe? Aconteceu uma coisa horrível... Não é comigo. Larissa levou um tiro, já a levaram para o hospital... Assalto... TCHAU. – Desligou o telefone. – Eu tenho que ir amiga.
- Eu vou com você.
A amiga de Pedro pegou um táxi. Ele passou na casa deles em busca de notícias, muita gente tentando bisbilhotar o acontecido, a polícia estava lá. Seu Nilo o deixou entrar, o noivo de Adriana, João Antônio, também estava. Ele era detetive da polícia.
- Encontrou alguma coisa?
- O ladrão estava sem luva.
- Sumiu alguma coisa?
- Não. Fique tranquilo, aqui você não vai ajudar em nada. Vá para o hospital...
Pedro ainda olhou para trás e viu o sangue no chão, marcas de mãos ensanguentadas por todo lado, as lágrimas desceram, ele saiu apressado do prédio em busca do hospital.

domingo, 16 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

A CARTA

Adriana lembrou o momento em que conversava com Larissa. Quando estava em seu quarto, arrumando algumas gavetas, encontrou um pequeno baú que servia para guardar papéis de carta. O celular tocou, era João Antônio, seu noivo: - Oi amor! Como foi a viagem?
- Muito bem, amanhã eu passo aí para sairmos... E Larissa?
- Como sempre... Agora inventou de dizer que não vai se sentir sozinha.
-Ela devia voltar para a casa dos pais.
- É. Eu já disse isso, mas é muito teimosa.
- Eu poderia passar a noite conversando com você, mas voltei cheio de trabalho, estou investigando um assaltante que anda rondando o bairro em que você mora.
- Tomara que ele passe bem longe daqui!
- Eu o pego antes!
- Claro que sim, meu herói! Bom trabalho, amor.
- Até amanhã.
Adriana voltou ao que estava fazendo, encontrou uma carta de Larissa quando fez uma viagem de intercâmbio e passaram um ano sem se ver. Resolveu abri-la e ler:

Querida Adriana,

Faz apenas um mês que os deixei, e de tanta saudade, resolvi escrever-te uma carta falando dos últimos acontecimentos. Eu não tenho muito que dizer, porque lembrei que quase todo dia nos falamos por telefone. Nesta carta, quero falar de algo que temos em comum, mas nunca paramos para conversar.
A nossa amizade parece o Sol, pois você ilumina a minha vida. Você apareceu e nunca mais saiu dela. Como posso agradecer o tanto de vezes que você me salvou das enrascadas? Ou os momentos que você me consolou quando brigava com os meus pais? Não. Eu não consigo parar de agradecer a Deus sempre que rezo, sempre que lembro nossas aventuras, dos nossos sonhos, somos irmãs! E é sempre bom contar com você, não sei como seria o mundo se não existissem Adriana e Larissa, as companheiras inseparáveis. Assim será sempre, eu e você.
OBS: Queria poder falar mais. Mas não consigo enumerar e dizer o quanto te respeito, admiro e nunca vou cansar de dizer que você é minha amiga.

BEIJOS,
Larissa

Quando Adriana resolveu guardar as coisas, abriu a mesma gaveta e encontrou um saquinho vermelho envolto de um laço rosa, abriu, o virou na palma da mão, era um escapulário com a imagem de São João Batista, protetor das amizades. Pôs no pescoço sorrindo de alegria, teve um susto ao ouvir um barulho vindo da sala, não se importou, devia ser um gato. Segundos depois, escutou outro barulho, dessa vez, não parecia gato, mas um tiro, que vinha da sala. Saiu correndo e chegando ao fim do corredor, acendeu a luz e encontrou Larissa em pé, cambaleando para trás, não tinha mais ninguém na sala bagunçada, Adriana amparou-a nos braços. Ela chorava e gritava por socorro.

Obs: A cada capítulo será mostrada as visões de um personagem. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação
Manuel Bandeira

Larissa estava no auge dos seus vinte e cinco anos, morava em um apartamento pequeno de uma cidade grande, trabalhava numa livraria e estava terminando a faculdade de biblioteconomia. Dedicada aos amigos, era conhecida como a “alcoviteira” da turma. Amava juntar casais! E por esse motivo, não conseguia namorar por muito tempo, sempre acabava o namoro quando alguém dizia se interessar por seus parceiros com medo de ser traída. Larissa sempre juntava os casais mais estranhos da cidade. Quando falava da preocupação de não conseguir namorar à amiga, Adriana, ela responde: - Ele deve não ser seu. Vai encontrar alguém melhor! – Mas ela nunca se contentou com aquelas respostas. Ela queria um namorado!
- Por quê? Eu quero ter um namorado!
- Desencana. Um dia, o seu príncipe aparece...
- Quando? E eu também não quero um príncipe, porque príncipes são muito educados!
- Você escolhe demais!
- Eu espero um cara legal... Será que ele morreu num desses acidentes aéreos?
- Vira essa boca pra lá! Meu noivo está chegando hoje! – Adriana bateu numa mesinha cor de tabaco que fica no centro da sala, com um jarro de flores de plástico amarelas, um porta retrato com a foto de Larissa e Adriana e uma bola de vidro transparente.
Elas eram amigas desde a infância, moravam juntas dividindo o aluguel, mas fazia três anos que Adriana arranjou um namorado, estava noiva e o casamento marcado para daqui a duas semanas, Larissa iria ficar sozinha.
Vendo que aquela conversa deixou Adriana preocupada com o noivo, Larissa resolveu mudar o assunto:
- Como estão andando os preparativos do casamento?
- Nunca pensei que fosse tão fácil montar um casamento... O vestido, os convites, a festa, igreja...
- Você já fez tudo?
- Com muita antecedência... O seu irmão fez tudo muito organizado!
- Tá feliz?
- MUITO! Só fico preocupada com uma coisa... Você vai ficar sozinha neste lugar. Volta para a casa dos seus pais!
- Não! Pedro mora com a gente, não estarei tão só...
- Pedro vive de balada, nunca para em casa, vai ser a mesma coisa que viver sozinha, sem ninguém pra conversar, nem brigar, como fazemos sempre...
- Esqueceu que eu trabalho numa livraria? E eu posso procurar algo para fazer, posso ir à sua casa, vou estudar. Viu como tenho o que fazer?
- Desse jeito vai ficar pra titia!
- Você disse que um dia o cara certo aparece.
- É. Mas é sempre bom estar alerta, não?
- Adriana...
- Oi...
- Eu vou ficar bem, não se preocupe. Você vai casar, tá?
- Eu sei. É que você é muito especial. Eu amo você, sua louca!
- Eu também amo você.
Elas se abraçaram intensamente. Passaram a noite conversando, rindo das farras que faziam, foram momentos inesquecíveis.
 Larissa precisava acalmar-se, só de pensar em não ter Adriana ao seu lado, estar solteira aos vinte e cinco anos. Estava difícil estar com alguém! O número de homens ativos diminuiu nos últimos cinco anos, fazendo retiradas de homossexuais, padres, penitenciários e os que só querem curtir a vida, fica difícil encontrar alguém para namorar e se possível, casar. Pois Adriana conseguiu e vai casar-se em duas semanas. É que para Larissa, tudo era impossível, ela escolhia demais, sonhava demais e ninguém era compatível com ela. Já a pediram em casamento quatro vezes e ela nunca aceitou, dizia sempre que não dava certo, muito nova, tinha medo. Mas não suportava a idéia de morrer titia, a velha solteirona!
- O que está acontecendo comigo? – Larissa estava em seu quarto, deitada na cama, com as mãos embaixo da cabeça, pensando sobre tudo isso. – Sempre que alguém casa, pareço estar com inveja... Ai que coisa feia, dona Larissa!... Vou acessar a internet pra falar com meu amigo especial!... Larissa nunca soube quem era esse amigo ‘’especial’’, mas não se importava com o mistério.
O quarto era uma bagunça, desajeitado, nunca conseguiu mantê-lo arrumado por muito tempo. Ela deixava tudo no chão, dizendo que ficava mais fácil encontrar. O amigo especial mandou uma mensagem avisando estar entrando na página, ela foi logo respondendo:
- O q tá fazendo?
- Tocando 1 música p vc.
- Depois qro escutar...
- O q ñ faço por vc?... Eu tenho algo a dizer...
- O q?
- Eu conheço vc.
- Eu sei.
- Eu moro perto da sua ksa.
- Pq vc nunk me disse?
- Eu tinha medo. Mas agora eu me encorajei a dizer qm eu sou.
- E qm é vc?1 tarado?Louco?

No meio da madrugada, um homem alto e forte, com passos esquivos, conseguiu entrar no apartamento das meninas pela janela, bagunçou tudo na sala sem fazer barulho. Com um descuido momentâneo, ele bateu o joelho na mesinha que ficava no centro da sala entre os sofás, derrubando uma bola de vidro transparente. Larissa ainda estava acordada e percebeu o barulho, saiu para ver o que havia quebrado. O homem ouviu os passos de Larissa, sacou uma arma calibre trinta e oito, nem deu tempo de acender as luzes, o homem atirou no peito dela e correu para a janela sem roubar nada, Ela permaneceu em pé segurando o peito ensangüentado por alguns segundos, Adriana acendeu a luz e a amparou por trás chorando e gritando por socorro.
- Adriana... – Larissa agonizava.
- Não fala Larissa... RESPIRA...
- Eu não agüento...
- Olha pra mim, olha Larissa! Socorro! Socorro!
Adriana já estava lavada de sangue, o porteiro bateu à porta com a polícia ao lado, Adriana pedia socorro sem parar, um dos policiais arrombou a porta, Seu Nilo teve um susto com aquela cena.
- Meu Deus!
- Ajuda!- Adriana gritou.
- Eu vou chamar a ambulância. – Seu Nilo saiu para pegar um telefone. Mas os policiais pegaram Larissa nos braços e resolveram levá-la ao hospital. A palidez já havia tomado conta de seu corpo e a respiração profunda, puseram-na no camburão e partiram para o hospital. Adriana apoiou a cabeça da amiga nas pernas e não parou de soluçar pedindo para Larissa não fechar os olhos. Os vizinhos estavam acordados, fora de suas casas, observando assustados aquela violência toda.
- Quem fez isso amiga?
- Eu não reagi...
- Eu sei, eu sei...
- Roubaram alguma coisa? Ela é sua irmã? – O policial continuou o interrogatório ali mesmo.
- Moramos juntas, somos amigas...
- Ela tem algum parente?
- Sim, mas...
- Quando chegarmos ao hospital ligamos para eles.
Dez minutos depois, chegaram à emergência, Adriana tentou entrar na sala de cirurgia, mas não pôde e ficou no corredor com os policiais. Em seguida chegou Pedro,o irmão de Larissa.
- Como você soube? – Adriana levantou para abraçá-lo.
- Seu Nilo me ligou. Meus pais já estão vindo. Como ela está?
- Ainda não sabemos, ela está na sala de cirurgia. Desculpe não ter ligado, eu saí tão desesperada que não lembrei. – Adriana não chorava mais.
Os médicos agiram com rapidez, tentaram transfusão de sangue, fizeram tudo,mas os batimentos cardíacos de Larissa começaram a cair e foram caindo, usaram o desfribilador para reanimá-la, mas não teve jeito, ela morreu...
- Hora da morte: cinco e meia da manhã do dia cinco de abril de dois mil e oito. - disse o médico olhando para o relógio. Ele foi pessoalmente falar sobre o falecimento de Larissa. Chegou ao corredor, Adriana levantou apreensiva acompanhada de Pedro que segurava a sua mão. O médico respirou fundo e segurando as mãos trêmulas deles disse apenas: - Acabou...
Pedro abraçou a amiga,o médico saiu, chegaram os pais de Larissa e Pedro, percebendo a tristeza acolheram-se junto ao abraço dos outros, ninguém disse mais nada.


Não percam os próximos capítulos...