sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O significado da vida


A vida é como o mar
Que a gente aproveita para nadar
Fazer nada, curtir a água, correr
Viramos areia fina que volta sem envelhecer.

A vida é como um diário
Que guardamos segredos,
Escrevemos nossos maiores medos,
Guardamos coisas que fizemos errado.

A vida é como um barco
No qual navegamos para tantos lugares,
Lugares bonitos, fartos e estranhos,
A âncora é um objeto inanimado...

A vida é um grande baú
De lembranças do passado,
A chave é o coração
Que mantém tudo que vivemos trancado.

A vida é o Sol que brilha todas as manhãs,
Mesmo que chova e fique nublado,
Ajudamos na fotossíntese das árvores
E aquecemos o animal do mato fechado.

MARA FARIAS

sábado, 19 de novembro de 2011

Sorri - Conto da Noite Triste

Sorri - Djavan
Sorri

Quando a dor te torturar

E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos, vazios
Sorri
Quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri
Quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados, doridos
Sorri
Vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz

Sorri – conto da noite triste

Mônica voltava no hospital segurando em suas mãos um exame de coração que havia feito há algumas semanas, ela tinha acabado de completar seus 25 anos e estava terminando de cursar a faculdade de serviço social.
Antes que eu possa contar a sua triste história, quero explicar algumas coisas que não serão explicitadas ao decorrer desse conto.
Começando por seu nome, Mônica, que significa sozinha. Isso mesmo, e não me perguntem por que sua mãe pôs esse nome, porque nem ela soube responder, encontrou em uma revista de modas e achou bonito. Devia ser o rosto alegre das modelos esqueléticas que escondiam a vontade brutal de comer qualquer coisa que vissem ou a vontade de correr para a casa dos pais.
Deixando um pouco de lado essa conversa sobre nomes, que na verdade não serve para acrescentar em nada nessa história, vamos voltar à heroína desse conto: Mônica!
O exame já tinha sido aberto no hospital público onde o fizera. Ela sabia o que o médico havia dito com aquela arrogância de sempre. – Minha filha, ou você faz a cirurgia ou morre!
Essa frase talvez já tivesse matado Mônica por dentro, por que foi tão fatal que ela nem pôde responder a altura. Pensou em dizer: - Se pelo menos o serviço público funcionasse, eu faria a cirurgia amanhã mesmo, mas antes vou ter de entrar numa fila de espera e sinceramente, não sou prioridade para o SUS!
Mas não o disse, ficou calada em sua insignificância civil, sorriu e disse - obrigada pela ajuda
Esperou o ônibus numa parada que não tinha cobertura, sua cabeça fervia, mas não reclamou. Olhou para a luz do Sol e sentiu saudade do tempo que não tinha consciência dos problemas que a rodeava.
No ônibus, o telefone toca. Mônica atende sorrindo de alegria e fala com entusiasmo: - Que saudade! O que temos para hoje?... Tá bom, eu irei sem falta! Está tudo ótimo! Abraço. O sorriso manteve-se em seu rosto com o que a pessoa falou do outro lado da linha demonstrando aquilo que todos queriam ver, supondo ser feliz a amargura que nas noites vazias devera sente.

Mara Farias

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Quando você chegar

Quando você chegar
Direi em poucas palavras:
- Você é livre!

Quando você chegar
Farei uma festa de comemoração
E cantarei um novo hino de saudação.

Quando você chegar
Vestirei roupas novas
Vermelhas ou lilás.

Quando você chegar
Escreveremos uma nova história
E esqueceremos aquele passado.

Quando você chegar
Construiremos novamente toda nossa vida,
Tudo em nós será novo!

Quando você chegar
Será um dia iluminado
Carregado de muita espera,
Esperança e sonhos.

Quando você chegar
Será um dia alegre
Distribuirei rosas ao povo
E declararei amor a ti!

Quando você chegar
Lembraremos das nossas aventuras conjugais
E sentiremos saudade daquele nosso amor ardente.

Quando você chegar
Descansarei em teu colo
Como a muito não fazia.

Até você chegar
Esperarei com muita empolgação,
Não cansarei de lutar para que você venha,
Serão dias de torrencial emoção,
Tomarei uma dose de utopia todos os dias,
Farei com que tua memória não acabe
E não te esqueçam!

Até você chegar
Falarei a todos das suas virtudes,
Cantarei nossas músicas de amor
E nunca esquecerei as suas palavras
De carinho dizendo:
- Não deixe de acreditar!

MARA FARIAS


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

CARPIE DIEM

          Era noite, Seu Nilo estudava na calçada do prédio. Era aquela mesma noite. Viu aquele mesmo rapaz passando com o nariz sangrando, era Paulo, mas ele pedia ajuda.
- Ei! Rapaz! O que aconteceu?
- Eu fui assaltado. Levaram tudo, até o carro, eu não tenho nem como voltar para casa... – ele se apoiava no ombro de Seu Nilo.
- Venha comigo. Vamos limpar esse nariz, tomar um café para esquentar. Você tem que ligar para seus pais, eles devem estar preocupados!
- Obrigado senhor...
- Pode me chamar de Nilo!- ele o carregava devagar para sua casa.
A casa das meninas estava limpa, não tinha sangue no chão, o centro estava no mesmo lugar, a bola de vidro também.
Adriana havia encontrado o escapulário e corrido ao encontro da amiga para agradecer o presente. Larissa estava olhando o teto, ela teve um susto quando a amiga entrou de supetão.
-Que susto Adriana!
-Você é demais! – Adriana sentou ao lado da amiga.
- Que alegria é essa?
- Só você pra me dar esse presente maravilhoso, obrigada!
- Pra você usar no seu casamento.
- Obrigada por tudo, mesmo.
- Ás vezes, as palavras valem menos que os gestos. – elas se abraçaram.
- Tenha uma boa noite com seu namorado virtual! – Adriana apontou para o computador apitando.
Larissa pulou da cama e sentou a frente da escrivaninha e Adriana saiu.
- O q tá fazendo?
- Tocando 1 música p vc.
- Depois qro escutar...
- O q ñ faço por vc?... eu tenho algo a dizer...
- O q?
- Eu conheço vc.
- Eu sei.
- Eu moro perto da sua ksa.
- Pq vc nunk me disse?
- Eu tinha medo. Mas agora eu me encorajei a dizer qm eu sou.
- E qm é vc?1 tarado?Louco?
- Sempre fui apaixonado por vc. Sou César o vizinho q mora na ksa da frente.
- Quando eu contar até três, a gente corre pra rua!
- 1 -2-3...
Os dois saíram correndo agoniados com os obstáculos, Adriana assustou-se com o barulho da correria, mas não alcançou a amiga, ficou olhando pela janela. César também correu como um louco, desesperado.
Chegaram à calçada e pararam cansados, caminharam devagar, e pela primeira vez, Larissa o olhou com olhos de apaixonada, seguram as mãos, sentiram tremer, era o vento frio. Eles riram meio envergonhados e se abraçaram com um beijo. Depois saíram pela rua andando e conversando sem pensar no tardar das horas.

“Como a vida vale mais que a própria vida sempre renascida.”
Carlos Drummond de Andrade

FIM!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O ÚLTIMO POEMA

O QUE RESTA DE MIM

Larissa morreu. Ainda estava deitada na cama da sala de cirurgia. As marcas da morte já eram aparentes: a palidez e a rigidez dos músculos, os dedos e os olhos arroxeados, nada se movia. A porta estava trancada, alguns minutos após a sua morte veio uma mulher da limpeza, olhou para Larissa e exclamou: - Tão nova... – e continuou o seu serviço, era comum ver óbitos como esse.
Depois a mulher da limpeza saiu do quarto com um saco de lixo.
Um homem alto e forte entrou em seguida, ele estava vestido de branco, como um médico. O homem pegou uma cadeira de plástico que estava no canto da sala atrás da porta, pôs ao lado da cama e sentou. E em seguida, pegou a mão gelada de Larissa e chamou-a: - Larissa... – e repetiu mais uma vez.
E como por um milagre, Larissa abriu os olhos, uma forte luz invadiu sua retina deixando-a zonza e continuou deitada olhando a luz forte que vinha do teto.
- Onde estou? Quem é você?
- Pergunta freqüente. A maioria das pessoas diz isso depois que acorda, a pergunta mais inusitada que escutei foi um rapaz que perguntou se eu era chefe de cozinha!
Larissa riu, mas sentiu uma dor no peito e viu um curativo encharcado de sangue.
- O que aconteceu comigo?
- Você não lembra?
E tudo o que aconteceu apareceu como um flash back rápido, ela lembrou. Larissa pôs a mão no peito, lembrando de Adriana, do notbook, do tiro... A vinda para o hospital, o coração parando... A morte...
- Mas eu nem casei, nem tive filhos, eu sou tão jovem para morrer!
- Larissa. Você está morta!
- E o que eu estou fazendo aqui? Acordada, conversando... É um sonho?
- Não. Não é sonho. Eu fui enviado para decidir o seu futuro e você vai me ajudar.
- Que futuro?Eu estou morta!
- Vamos fazer uma viagem no tempo. – o homem pegou em sua mão e levou-a em direção a porta pela qual ele havia entrado. Foram parar numa sala minúscula, e tinha lugar para apenas três pessoas, as paredes azuis e os móveis brancos.
- Onde estamos?
- Você pergunta demais. Quando eu abrir aquela porta, você verá toda sua vida...
              - Eu estou com medo!
- Todos têm medo de lembrar o passado.
Larissa respirou forte e seguiu em direção à segunda porta, segurou a maçaneta e entrou num corredor escuro, o homem entrou atrás dela. A única luz que iluminava eram telões pendurados nas paredes.
O primeiro telão ligou sozinho e Larissa pôde ver o seu nascimento. Ela chegou mais perto e tocou-o, a boca aberta e lágrimas nos olhos.
- Eu nascendo... Porque você ta mostrando o meu nascimento? – ela não parava de olhar aquela cena.
- Quando você nasceu sua estória começou a ser escrita. Esse é o momento mais importante da sua vida. Veja como a sua mãe está feliz!
- Eu sou muito feliz por ter uma mãe como ela. Eu lembro do meu pai brigando com a mamãe porque eu e Pedro sempre aprontávamos. Mas eles sempre se respeitaram!
Eles seguiram o caminho e mais uma tela ligou, mostrou o primeiro dia de aula, Larissa tinha cinco anos, segurava as mãos dos pais, era pequena e indefesa.
- Eu tava tão nervosa nesse dia...
- Seus pais também estavam. – Ele riu e bateu no ombro dela.
Eles pularam vários telões e pararam em um que mostrava os dez anos de Larissa, quando ela conheceu Adriana, elas eram vizinhas e tornaram-se grandes amigas.
- Você está bem?- o homem perguntou.
- São momentos como esses que eu percebo o quanto precisamos das pessoas, somos todos importantes...
- Se você quiser, podemos parar.
- Não. Vamos continuar.
Aos doze anos, Larissa menstruou e deu o primeiro beijo, aos treze se maquiou e foi à primeira festa sozinha, aos quinze, debutante e teve seu primeiro namorado. Larissa viu quando ajudou no namoro de Adriana e João Antônio. Essas cenas todas foram mostradas, algumas ela nem lembrava mais, ela ria com lágrimas nos olhos ou chorava com um sorriso nos lábios.
Aos dezoito, prestou vestibular e mudou-se para o apartamento de Adriana, a imagem da mudança congelou.
- Porque parou? – Larissa perguntou.
- Você sabe quem é esse rapaz?
- O vizinho que mora em frente. Não me diga que ele me matou?
-Você nem desconfia o que ele representa na sua vida?
A imagem descongelou e ela viu o dia o dia em que os dois começaram a conversar pela internet e ficou surpresa com a descoberta.
- Ele estava o tempo todo ao meu lado e eu não o vi. – Larissa levou a mão à boca.
E após aquela cena, Larissa viu o resto de sua vida até o dia de sua morte.
- Eu não acredito que o rapaz que me matou é um burguês safado! Como podem roubar por diversão? Eles merecem umas boas palmadas para aprender o que é dignidade! Só por ter dinheiro acham que podem fazer e desfazer?
- O que você quer fazer agora?
- Como assim? Eu estou morta, esqueceu?
- Em algum momento de sua vida, você nunca pensou em voltar no tempo e mudar o que disse, fez ou deixou de fazer?
 - Sim...
- Lembrando que você só poderá fazer três pedidos.
- Na verdade, eu gostaria de voltar no tempo agora e não deixar aquele rapaz ter tratado Seu Nilo daquela maneira. Eu quero que ele nunca tenha conhecido meu irmão, que seja um homem bom!
- Não quer mudar mais?
- Eu já pedi as três mudanças...
- Larissa, você pediu todas as mudanças para o homem que te matou e essa é atitude de poucos. Você poderá voltar!
Larissa vibrou de alegria e abraçou o homem.
- E quanto a César?
- Pode deixar como estávamos, acredito que aconteceria algo inacreditável quando fomos interrompidos... Pensei em mudar o mundo, mas eu não posso com tanto. As pessoas precisam se conscientizar e tentar mudar também. Mudar o mundo não cabe só a mim, cabe a todos nós. Eu agradeço, mas não posso mudar mais nada.
- Então o sonho acabou?
- Não. O sonho só está começando!
- O seu pedido é uma ordem!